Notícias

Diário Grande ABC – Grande ABC registra a menor taxa de natalidade desde 2012

Em dez anos, número de nascimentos caiu 32% nas cidades da região; mudança demográfica ocorre em nível mundial, diz especialista

13-07-2022

A população do Grande ABC diminuiu gastos com fraldas, leite, brinquedos e outros itens necessários para sobrevivência de bebês. Isso porque a região fechou o primeiro semestre deste ano com a menor taxa de nascimento dos últimos dez anos, passando de 18.135 crianças nascidas em 2012 para apenas 13.696 nos seis primeiros meses deste ano – diminuição de 32% no período, segundo levantamento da Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado). A mudança demográfica na região também ocorre em níveis nacionais e mundiais, conforme pontua especialista da área.

A expressiva diminuição de nascimentos pode ser explicada por diversos fatores sociais, econômicos e culturais, conforme explica Leonardo Freire de Mello, professor em planejamento territorial da UFABC (Universidade Federal do ABC) e integrante do GPOP (Grupo de Estudos de População) da instituição. A baixa natalidade tem ocorrido por conta da mudança do papel da mulher na sociedade, como maior inserção no mercado de trabalho e também pela mudança comportamental delas, impactando, assim, na baixa fecundidade (quantidade de filhos por mulher). Segundo estimativa do docente, em 1970 a média era de cinco filhos, enquanto hoje o número pode chegar a 1,2 ou até menos.

A pandemia da Covid-19 agravou ainda mais o número de nascimentos. Para a Arpen, a crise sanitária gerou dúvidas na população e os planos de engravidar acabaram sendo adiados. “Outros temas, como a própria guerra na Ucrânia, as incertezas da economia, o alto valor dos alimentos, do gás de cozinha e da gasolina, são todos fatores que acabam, vez ou outra, sendo impactantes no momento da decisão de se gerar um filho”, pontuou o órgão.

Para se ter uma ideia, entre 2019 e 2022, cerca de 7.487 crianças deixaram de nascer nas sete cidades. Esse número representa 249 salas de aulas (com 30 alunos cada) ou 150 ônibus de transporte público (com 50 lugares) lotados de crianças. A média de nascimentos no primeiro semestre na região era de 16.719, porém, de 2019 a 2022 a taxa de nascidos vivos ficou abaixo desse número.

A longo prazo, a sociedade deverá vivenciar as consequências do envelhecimento populacional. O setor econômico será um dos mais afetados, em diferentes áreas, como escassez de mão de obra no mercado de trabalho e baixa contribuição previdenciária, por exemplo. “O Japão, que já tem mais idosos do que crianças, precisa importar mão de obra para tentar sanar a escassez no país. O Brasil vive hoje o que chamamos de bônus demográfico, que é quando temos mais jovens economicamente ativos do que aposentados. Não há como estimar a durabilidade desse período, porém, se seguir a tendência, deverá durar entre 2030 até 2040”, esclarece o professor da UFABC.

Além da economia, outras áreas precisarão se adaptar ao novo perfil demográfico. No Grande ABC, por exemplo, conforme mostrou o Diário em outubro do ano passado em série de reportagens publicadas sobre o tema, a região deverá ter mais idosos do que crianças em apenas quatro anos – cerca de 15 anos da previsão nacional. Em 2025 serão 491.264 pessoas com mais de 60 anos contra 486.820 crianças de zero a 14 anos. São Caetano e Santo André já vivem essa realidade e possuem mais idosos do que crianças nas duas cidades.

ECONOMIA PRATEADA

O envelhecimento populacional é constantemente associado ao aumento de gastos públicos nas áreas da saúde e Previdência Social, por exemplo. Porém, o aumento nas demandas da população idosa também faz surgir novas oportunidades econômicas, conforme define o conceito de economia prateada, voltada principalmente para o público com mais de 60 anos. Também conhecida como economia da longevidade, acompanha o crescimento dos idosos em cada região e, consequentemente, quanto mais numerosa for a população mais velha do local, mais oportunidades econômicas poderão surgir para o território.

A mudança demográfica da população também significa melhoria na qualidade de vida, ou seja, as pessoas estão vivendo cada vez mais. “Esse processo é completamente normal e esperado, todas as cidades passam pelo que chamamos de transição demográfica. Após essa fase, a tendência é sair da pirâmide etária mais jovem (composta por alta taxa de natalidade) para colunas, com o mesmo número de pessoas nascendo e morrendo”, finaliza o especialista em demografia.

Fonte: Diário do Grande ABC