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Clipping – Jornal Nacional – Mortes por coronavírus no Brasil passam de 13 mil, mas números podem ser ainda maiores

14-05-2020

Registros nos cartórios apontam para uma subnotificação das mortes pela Covid-19. São famílias que não têm acesso ao desfecho da história de parentes queridos.

 

Como o Jornal Nacional tem feito quase todos os dias, a edição desta quarta-feira (13) começa com os números oficiais do desastre que é a pandemia do coronavírus. E enquanto os apresentadores fazem isso, o painel atrás deles exibe rostos. São rostos de pessoas que perderam a vida e que integram uma legião de brasileiros mortos pela Covid-19.

Nesta quarta-feira (13), segundo o Ministério da Saúde, são 13.149 cidadãos. De terça (12) para quarta (13), o ministério confirmou mais 749 óbitos. O número de casos confirmados chegou a 188.974; 11.385 nas últimas 24 horas.

Esses números podem ser muitos maiores. Os registros nos cartórios indicam uma enorme subnotificação das mortes pela Covid-19.

“Meu pai se chama Pedro Alves da Silva, 66 anos. Causa da morte: insuficiência respiratória aguda, derrame pleural, pneumonia”, conta a professora Sara Alves da Silva.

“O nome dele é Altair Álvaro da Silva, 75 anos e o que está no atestado de óbito é sepse pulmonar. Ele era extrovertido. Ele era muito humano, muito amigo, muito carinhoso, sabe? Vai deixar muita saudade”, afirma a médica Taiz Mara Santos.

Taiz e Sara têm certeza de que o tio e o pai morreram de Covid-19. Chegaram a ouvir isso de médicos. Taiz é médica. Mas, sem testes, na declaração de óbito a causa da morte é outra.

Foi o que também aconteceu com a avó da Daiana Alves, a dona Josefa, de 87 anos. “Ela não tinha paladar, não tinha olfato, fraqueza, febre. Aí ela ficou pior porque deu falta de ar. Causa indeterminada. Acho que eles não testaram”, conta a recepcionista.

Os números dos cartórios que estão no Portal da Transparência do Registro Civil mostram que a Covid-19 pode estar aparecendo com outros nomes nos atestados de óbitos.

Os registros de mortes por causas indeterminadas ligadas a doenças respiratórias dispararam no estado do Rio em comparação com 2019. E os de síndrome respiratória aguda grave também.

As informações dos cartórios ainda trazem outro registro dessa subnotificação: segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o Rio tem 2.050 mortes pelo novo coronavírus. Mas quando são somadas as mortes confirmados e suspeitas por Covid-19 nos cartórios, o número de vítimas passa de 4.000.

A subnotificação traz incertezas. A situação no país pode ser ainda mais grave do que os números oficiais mostram. A subnotificação traz angústias. É ainda mais dor para as famílias numa hora tão difícil, porque você fica sem saber a história completa de quem se foi.

As famílias não têm certeza da causa da morte, mas precisam seguir os protocolos. “É triste demais, gente, muito triste. Não pode se despedir, não poder dar um abraço, não poder dar um beijo. Nossa senhora. Misericórdia”, lamenta a médica Taiz Mara Santos.

Luiz Paulo perdeu o irmão mais velho. Jorge Antônio tinha 43 anos e três filhos. No atestado, está suspeita de Covid. Na vida da família, tristeza e apreensão: “A gente fica desamparado. Não pode fazer um exame, não pode fazer nada para a gente ver se está também. Para a gente se prevenir logo, para não contaminar o resto das pessoas, que é quintal de família e não pode fazer nada”, lamenta.

A subnotificação pode esconder a realidade dos números, mas não o que sente cada família.

“Eu prefiro até pensar nele sempre como ele sempre apareceu para a gente. Sempre rindo, sempre brincando, e é assim que eu quero lembrar dele”, diz a professora Sara Alves da Silva.

Fonte: Jornal Nacional