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Clipping – G1 – Pesquisador levanta mortes por doenças respiratórias em SP e aponta que isolamento surtiu efeito

09-06-2020

Houve uma mudança na curva de mortes associada, segundo cientista, ao impacto de isolamento social, mas a trajetória voltou a piorar em um segundo momento.

Há uma visível correlação entre a política de distanciamento social adotada no estado de São Paulo com a redução na taxa de óbitos por doenças respiratórias, de acordo com um levantamento do professor Carlos Henrique de Brito Cruz, do Departamento de Física da Unicamp.

Os dados analisados por ele não são somente os de mortes confirmadas por Covid-19, mas, também, os casos de suspeita de coronavirus e os de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag).

O pesquisador analisou a série temporal de mortes causadas por Covid-19 por dia dos cartórios do estado.

A ideia de Brito Cruz, ao começar a pesquisar, era poder tirar conclusões sobre qual foi o efeito da política de isolamento social com base em dados.

A diminuição da adesão ao distanciamento social depois do início de abril, fez com que o número de óbitos voltasse a subir, mesmo que a uma taxa menor do que a anterior, 0,8.

A mudança de trajetória

O pesquisador da Unicamp afirma que um estudo publicado na revista “The Lancet” mostra que os pacientes que perdem a vida ficam infectados, em média, 18,8 dias.

Por isso a curva subiu logo após o governo do estado impor as medidas de isolamento –foram mortes de pessoas que ficaram infectadas antes do decreto das regras que forçaram o distanciamento social.

Há então uma mudança de trajetória da curva.

“É uma transição abrupta, de repente a tendência da curva muda. Eu acho que não é possível formular uma razão mais direta para isso [que a imposição do isolamento social 19 dias antes]. Isso aconteceu no prazo em que se esperaria que fosse ocorrer.”

Ele usou um exemplo da física, o conceito de detecção síncrona: quando há um acontecimento, o outro virá, como a luz do raio seguida do barulho do trovão.

Depois de 18,8 dias do decreto de isolamento, seguiu-se a queda na taxa de crescimento da quantidade de mortes.

Portanto, a evolução dos casos se deu, de acordo com ele, da seguinte forma:

  • 16 de março: início da imposição de medidas de isolamento
  • De 16 de março a 5 de abril: curva de mortes cresce a taxas positivas (5,165 mortes a mais por dia), porque eram casos de pessoas que se infectaram antes das medidas
  • De 5 de abril a 20 de abril: comportamento da curva muda; número de mortes chega a decrescer a uma velocidade de 0,1 morte por dia
  • De 20 de abril em diante: curva volta a subir, agora a uma velocidade de 5,89 mortes por dia

No município de São Paulo houve uma reversão ainda mais forte da tendência de crescimento das mortes, que vinham subindo a uma velocidade de 3,2 mortes por dia, para um decréscimo de 0,4 mortes por dia entre 5 de abril e 20 de abril, indicando uma redução na transmissão da doença.

A piora na curva

A trajetória da curva voltou a crescer, o que condiz com os relatos de piora do isolamento analisados pelos dados de telefonia, divulgados pelo governo do estado de São Paulo.

Na comparação entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, as curvas apontam para um isolamento menos efetivo e uma piora mais rápida, após um pequeno patamar, na capital carioca.

Dados na cronologia correta

A opção pelo uso do registro civil se deu porque os dados do Ministério da Saúde não são divulgados com a referência da data em que o paciente de fato morreu, mas, sim, do dia em que o resultado do teste de Covid-19 ficou pronto.

Por isso que, nas divulgações do ministério, afirma-se que há mortes cuja causa ainda estão em investigação –há, nesta quarta-feira (26), cerca de 3.882 óbitos que podem ter sido causados pelo novo coronavírus, mas que ainda não foram oficialmente integrados à contagem.

O dado que o pesquisador usou, dos cartórios, não é recente, no entanto. Isso porque as famílias têm um dia para dar entrada com os papéis no cartório, esse órgão pode demorar até cinco dias para enviar suas informações, e para que elas sejam carregadas no sistema, pode levar mais oito dias. Ou seja, há um atraso de até duas semanas.

Os dados recentes dos cartórios estão condizentes com os de outras plataformas, como o DataSUS ou do IBGE, para números de mortes, afirma Brito Cruz.

A principal conclusão, segundo o pesquisador, é que para se entender melhor a disseminação da doença é preciso usar os dados referenciados à data em que aconteceram – se forem mortes, referenciados à data do óbito e não ao dia em que saiu o resultado dos testes feitos. Se o dado se referir a casos, a data deveria ser a do início dos sintomas.

Platô na curva

O platô na curva foi breve porque a adesão às medidas foi esgarçando, de acordo com Natalia Pasternak, do Instituto de Biociências da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência.

“Há um claro efeito na cidade de São Paulo, e um menos forte no estado. Isso fica claro quando se acompanha a curva de acordo com as datas da morte, e não com o resultado dos testes”, afirma ela.

O estudo de Brito Cruz, diz Pasternak, mostra que a colaboração da população para o isolamento dá resultados, e que cada cidade precisa ter o monitoramento da sua própria curva com os óbitos na data da ocorrência, e não do resultado do teste.

A piora na adesão da população ao isolamento é algo comum em epidemias, afirma Pasternak.

“É uma medida que é vítima do próprio sucesso: se os contágios diminuem, as pessoas param de colaborar. Isso é comum, acontece no movimento anti-vacina.”

Fonte: G1