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Clipping – A cidade on – Em dez anos, número de divórcios quadruplica em Ribeirão Preto

02-05-2018

Especialista considera que sociedade mais individualista é um dos motivos para explicar crescimento

Em dez anos, os casais se divorciaram quase quatro vezes mais em Ribeirão Preto. Segundo o CNB-SP (Colégio Notarial do Brasil), órgão que representa os tabeliões no Estado, 406 uniões foram desfeitas oficialmente no ano passado, contra 107 separações em 2007, um aumento de 279%.

Enquanto o número de divórcios quadruplicou na cidade, a quantidade de casamentos oficiais cresceu em um ritmo bem menor e sofreu pequena variação, de quase 18% no mesmo período, entre 2007 e 2017.

Os números mostram, proporcionalmente, que os casais se divorciaram 15 vezes mais do que se casaram no período. A estatística leva em conta divórcios na esfera extrajudicial, ou seja, sem intervenção da Justiça.

O sociólogo Fábio Pacano considera que a maior proporção de divórcios e a menor incidência de casamentos podem ser explicadas pela transformação da estrutura econômica e social da sociedade contemporânea, regida hoje pelo individualismo.

“O casamento é difícil, é renúncia, é se adequar, com filhos é abrir mão de vontades pessoais. Hoje, no entanto, as pessoas estão menos dispostas ao sacrifício do convívio presencial”, considera.

Traição e divórcio

A babá Angelaine Gastaldi, 34, se divorciou há dois anos após um casamento de 16 anos que teve como fruto duas filhas, hoje com 5 e 15 anos. O motivo, relembra, foi traição por parte do ex-marido. “Ele chegou para mim, confessou que tinha outra e quis se separar, partiu dele. Mas depois disso, para mim também não daria mais, não dá para confiar”, afirma.

Angelaine diz que, no início, a maior dificuldade foi a filha mais velha aceitar a separação. “Isso desestruturou a família. Ela ficou revoltada e não aceitava porque era apegada com o pai”, afirmou. Há cerca de dois anos, Angelaine e as filhas não têm contato com ele. “Hoje minha filha já superou e nem pergunta mais”, diz.

País teve 70 mil divórcios em 2017

De acordo com o último levantamento do CNB (Colégio Notarial do Brasil), os tabelionatos de notas de todo o País lavraram 69.926 divórcios extrajudiciais em 2017. O número é 2,5% superior ao total registrado em 2016, quando foram lavrados 68.232 atos da mesma natureza.

Segundo o CNB, esta é a primeira alta no número de divórcios extrajudiciais no Brasil após três anos consecutivos em queda: 2016 (-1,3%), 2015 (-2,3%) e 2014 (-0,4%).

“Antes da aprovação da Lei 11.441, de 2007, que normatizou a realização de divórcio extrajudicial, e principalmente após a Emenda Constitucional 66, em 2010, que facilitou ainda mais a separação, havia um número represado de casais que desejavam se divorciar”, afirma Andrey Guimarães Duarte, presidente do CNB-SP.

Mais rápido, sem burocracia

Nos cartórios de notas, os procedimentos são realizados de forma ágil e com a mesma segurança jurídica do Judiciário.
Se não houver bens a partilhar, um divórcio pode ser resolvido em poucas horas, caso as partes apresentem todos os documentos necessários para a prática do ato e estejam assessoradas por um advogado. Podem se divorciar em um tabelionato de notas os casais sem filhos menores ou incapazes e também aqueles com filhos menores em que questões como pensão, guarda e visitas estejam previamente resolvidas no âmbito judicial. “Os divórcios em cartório são feitos de forma rápida, simples e segura pelo tabelião de notas. Mesmo os casais que já tenham processo judicial em andamento podem desistir dessa via e optar por praticar o ato por meio de escritura pública em cartório, quando preenchidos os requisitos da lei”, pondera Andrey Duarte, presidente do CNB-SP.

Thais colocou ponto final um ano depois

Um ano depois de se casar, a dona de casa Thais Pericini Cardoso, 32, já resolveu colocar um ponto final na relação. O motivo, relembra, foi o fato de o relacionamento ter se transformado em um verdadeiro inferno. “Entrei em depressão profunda nesse um ano de relacionamento. Perdi 15 quilos, sofri muito. Meu ex-marido era usuário de drogas, bebia, me batia. Eu tinha uma vida muito sofrida ao lado dele”, relembra.

Seis meses depois da separação, em junho de 2013, Thais iniciou um novo relacionamento, com o trocador de óleo Tiago Aurélio Cardoso, 35 anos. Thais já tinha uma filha de um relacionamento anterior, hoje com 11 anos, e o atual marido tem mais duas filhas, de 4 e 2 anos.

“Quando meu atual marido me conheceu, eu era uma pessoa totalmente fechada, desiludida, tinha medo de entrar de cabeça e me machucar mais uma vez. Mas hoje vi que encontrei meu porto seguro, conseguimos construir coisas juntos, meu marido é meu amigo, e antes eu não tinha isso”, comemora.

ANÁLISE

Estigma da separação passa mais rápido

“Antes, uma mulher divorciada era tida como uma largada e até era considerada ladra de marido das outras. Com o passar dos anos, no entanto, esse rótulo social mudou e hoje o estigma da separação de um casal passa mais rápido. A instituição social família sofreu transformações profundas, de um mundo rural e agrário para um mundo urbano e industrial. A sociedade passou a ser virtual e informacional, com desapego às instituições religiosas e civis, e toda essa passagem implica em mudanças na instituição social família. O mundo virtual comporta melhor a solidão e a família contemporânea trouxe novos arranjos, o que inclui uniões estáveis não registradas (hétero e homoafetivas) e uma opção por viver junto e depois possivelmente se casar. Embora os casamentos tenham crescido em menor número, isso não implica que houve redução do número de uniões.”

Fábio Pacano
Sociólogo

Fonte: A cidade on