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Clipping – A Cidade On – Casamento gay cresce 168% em dezembro em Campinas
Número equivale a 32% de todos os casamentos homoafetivos registrado em 2018 na cidade; casais ouvidos relatam medo de perder direitos adquiridos
O número de casamentos homoafetivos registrados em Campinas cresceu 168% entre os meses de novembro e dezembro do ano passado, de acordo com o levantamento da Arpen/SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo). Segundo o relato dos casais, o aumento se deve ao receio de perder direitos adquiridos com a posse do novo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Durante a disputa eleitoral o então candidato Jair Bolsonaro assinou um termo da organização Voto Católico Brasil que defende “o verdadeiro sentido do Matrimônio, como união entre homem e mulher”. O temor era de que o novo governo baixasse uma medida provisória proibindo a união. O casamento homoafetivo foi aprovado no Brasil em 2013 pelo Conselho Nacional de Justiça.
Nos 12 meses de 2018 foram registrados 181 casamentos homoafetivos em Campinas. Apenas no mês de dezembro foram 59 casamentos registrados, o que equivale a 32% de todos os casamentos registrados durante o ano.
O número também é mais que o dobro do registrado no mês de novembro que somou 22 registros.
Medo
O economista João Vechio, de 29 anos, e o engenheiro mecânico Arthur Resende, de 27 anos, resolveram se casar em dezembro, depois de sete anos namorando e morando juntos. O casal já possuía registro de casamento estável desde pouco depois do namoro, mas a discussão em adquirir a certidão de casamento surgiu durante as eleições para presidente do ano passado. “Após algumas declarações polêmicas do atual presidente e de alguns dos seus possíveis ministros, nós decidimos que converteríamos a nossa união estável em casamento o mais rápido possível”, disse Vechio.
O casamento foi apressado para que o registro fosse feito ainda em 2018. “Nosso plano original era fazer a festa no fim de 2019, com uma cerimônia pequena, alguns padrinhos e logo depois seguir para uma viagem que temos planejado há anos para a Islândia. Foi tudo adiantado, menos a festa e a viagem”, brinca o economista.
No entanto, o casal ainda teme represálias do presidente empossado. “Não é o tipo de pauta que a gente espera ver sendo votada na Câmara dos Deputados ou no Senado, mas existe um medo de isso voltar à tona”, contou. “Pelo que entendo, anular casamentos seria impossível, mas impedir que outros sejam homologados pode vir a ser uma realidade”.
O antropólogo Thiago Falcão, de 29 anos, casou com o professor Raus Santos pelo mesmo motivo. Eles também queriam se casar em 2019, mas depois da campanha do atual presidente resolveram adiantar a cerimônia “já que o casamento homoafetivo não é uma lei, mas uma decisão do STF”, explicou Falcão.
O desconforto e apreensão com o atual governo também é compartilhado pelo casal. “Todo dia é alguma fala do atual governo que deslegitima a nossa existência enquanto sujeitos de direitos e enquanto família”, disse. “Foi a possibilidade de proibir novos casamentos, inclusive, que nos fez adiantar o nosso”.
Fonte: A Cidade On