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Clipping – Carta Capital – Mortes por causas respiratórias subiram 78% em maio de 2020, em relação ao mesmo período de 2019
Segundo relatório obtido com exclusividade por CartaCapital, Amazonas passou de 500% em variações de óbitos entre abril e maio dos dois anos
Um estudo obtido com exclusividade por CartaCapital estima que o número de mortes por causas respiratórias ocorridas em maio, no Brasil, apresentou aumento de 77,92% em relação ao mesmo período em 2019.
O dado consta em um relatório finalizado na quinta-feira 18 pelo grupo Covid-19: Observatório Fluminense, coordenado por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A equipe reúne especialistas em matemática, engenharias, computação, arquitetura e jornalismo.
O relatório avalia os impactos da Covid-19 a partir de dados do Portal da Transparência de Registro Civil, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os pesquisadores compararam o número de mortes causadas por doenças respiratórias entre os meses de maio e de abril de 2020 e o mesmo bimestre em 2019, para verificar o aumento da letalidade após a pandemia do novo coronavírus.
Por “causas respiratórias” entendem-se as mortes que tiveram como causas registradas o novo coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a pneumonia.
Mortes por causas respiratórias: aumento de 36% em abril e 78% em maio
De acordo com o relatório, o índice de óbitos por causas respiratórias, inclusive Covid-19, saltou de 26.158 em abril de 2019 para 35.624 em abril de 2020. O aumento equivale ao percentual de 36,19% entre os dois períodos.
Se comparados os meses de maio de 2020 e de 2019, o número dispara. A equipe identificou 28.826 mortes por causas respiratórias em maio de 2019; no mesmo mês em 2020, o relatório informa 51.288 óbitos.
Número de óbitos gerais aumentou
De acordo com o relatório, o índice de óbitos gerais, ou seja, sem especificação do motivo, apresentou aumento em abril e maio de 2020, se comparado ao período anterior.
Em abril de 2020, o Brasil teve aumento de 9,76% nos óbitos gerais em relação ao mesmo mês do ano passado. Os pesquisadores identificaram 92.951 óbitos entre os dados do Registro Civil em 2019. Em 2020, o número subiu para 102.021 óbitos gerais.
Em maio de 2020, o salto foi de 20,63% nos óbitos gerais: foram 100.966 mortes identificadas em maio de 2019, contra 121.800 relatadas em maio deste ano.
Os números relatados são bem superiores aos verificados nos meses de janeiro, fevereiro e março, em comparação com os dois anos. As variações mensais dos registros de óbitos aumentam conforme o tempo passa: foram de 1,6% em janeiro, 0,35% em fevereiro, 8,2% em março, até chegar a 9,76% em abril e 20,63% em maio.
Estados mais afetados expressam maiores saltos em óbitos gerais
Os estudiosos também analisaram os indicativos dos estados mais afetados pela pandemia: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pará, Maranhão, Amazonas e Pernambuco. Segundo o relatório, o número de óbitos gerais nesse conjunto de estados cresceu 15,5% em abril de 2020, se comparado ao mesmo mês em 2019.
Novamente, o percentual é bem maior quando colocado ao lado de janeiro, fevereiro e março. Em janeiro, a variação foi de 2,1%; em fevereiro, houve decréscimo de -0,75%; em março, o aumento foi de 10,5%, até chegar a 15,5% em abril.
No resto dos estados, o índice decresceu -3,7% entre abril de 2019 e abril de 2020.
Em janeiro, a variação percentual foi de aumento em 1%; em fevereiro, 1,5%; em março, 5,6%, até apresentar decréscimo de -3,7% em abril.
No relatório, os pesquisadores apontam possível relação entre a redução significativa nas mortes em alguns estados e a adoção de medidas de distanciamento social.
“Obviamente, há vários efeitos misturados nesses dados que merecem outras análises pormenorizadas. Porém, em estados com poucos casos de covid-19 no mês de abril e que implementaram alguma medida de distanciamento social, vemos uma redução significativa das mortes, enquanto nos estados amplamente noticiados como atingidos pela epidemia, vemos um aumento significativo”, escrevem.
O estudo descreve que a redução na mortalidade é visto em 1/3 dos estados da federação: Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Piauí, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.
Amazonas: variação de mortes por causas respiratórias ultrapassa 500%
O relatório traz uma discriminação individualizada sobre as variações em cada estado, entre abril e maio dos dois anos. Cinco estados apresentaram variações superiores a 200% no número de mortes relacionadas a causas respiratórias.
Amazonas: Óbitos por causas respiratórias subiram 519,44% entre os dois meses de abril e 506,52% entre os dois meses de maio. Os óbitos gerais no território amazonense aumentaram 188,78% entre os dois meses de abril e 130,16% entre os dois meses de maio.
Ceará: Óbitos por causas respiratórias subiram 57,54% entre os dois meses de abril e 318,66% entre os dois meses de maio. Os óbitos gerais aumentaram 22,04% entre os dois meses de abril e 108,75% entre os dois meses de maio.
Pará: Óbitos por causas respiratórias subiram 161,86% entre os dois meses de abril e 271.38% entre os dois meses de maio. Os óbitos gerais no território paraense subiram 58% entre os dois meses de abril e 81% entre os dois meses de maio.
Maranhão: Óbitos por causas respiratórias subiram 115,89% entre os dois meses de abril e 268,33% entre os dois meses de maio. Os óbitos gerais entre os maranhenses subiram 39,39% entre os dois meses de abril e 67,06% entre os dois meses de maio.
Pernambuco: Óbitos por causas respiratórias subiram 88,9% entre os dois meses de abril e 265,97% entre os dois meses de maio. Os óbitos gerais cresceram 23,29% entre os dois meses de abril e 67,38% entre os dois meses de maio.
Para pesquisadores, estudo atesta que impacto da pandemia é inegável
Em entrevista a CartaCapital, pesquisadores do estudo explicaram que a ideia fundamental do levantamento é tentar avaliar o impacto da pandemia do novo coronavírus. De acordo com o doutor em Engenharia e professor do Departamento de Eletrônica e Telecomunicações da UERJ, Lisandro Lovisolo, a coleta dos dados considerou discussões sobre o rigor dos registros obtidos.
“Como há uma discussão sobre se determinada morte foi anotada corretamente como Covid-19, pneumonia ou SRAG, e também sobre a falta de testes, a gente levantou todas elas de uma vez e comparou estatisticamente. O que a gente percebeu é que houve quase 78% de aumento nos óbitos em relação a maio do ano passado, um aumento muito significativo”, considera o pesquisador.
O doutor em Engenharia e professor do Departamento de Matemática Aplicada da UERJ Americo Barbosa da Cunha Junior destaca a assimetria entre os estados, já que a equipe não identificou aumentos críticos no número de mortes em todas as unidades federativas de um ano para o outro. Entre as possíveis causas para a disparidade, o professor cogita que a pandemia não atingiu seu pico em determinados locais e que a adoção de medidas de distanciamento pode ter influenciado.
Para Barbosa da Cunha Junior, as investigações sugerem indícios preliminares de que vítimas fatais registradas como falecimentos por SRAG podem, na verdade, ter morrido por coronavírus.
“Houve aumento de mais de 77% em mortes por doenças respiratórias. Uma boa parte disso é por Covid-19. Agora, a gente observa que a SRAG matava muito pouco no ano passado, e esse ano houve um aumento significativo na curva de mortes por SRAG. Isso pode ser um indício do seguinte: essas mortes podem ser registradas como SRAG, mas na verdade são covid-19. A gente não pode afirmar, mas são indícios”, apontou o pesquisador.
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil ultrapassou 1 milhão de casos infecção por coronavírus nesta sexta-feira 19. O país já acumula 48.954 falecimentos pela doença.
Fonte: Carta Capital