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Arpen/SP – Seis décadas de dedicação ao Registro Civil: a história profissional de Antônio Francisco Parra

Completadas no último dia 31 de janeiro, o oficial do Cartório de Marília viveu todas as funções de uma serventia extrajudicial, e conta à Arpen/SP sua trajetória na profissão

01-03-2023

Em seis décadas, inúmeras histórias, vivências, trajetórias e memórias são geradas. Em 1963, o mundo estava ainda no auge da Guerra Fria. Países como Angola, Suriname, Catar, Singapura e Malta ainda nem existiam ou eram colônias. A banda de rock britânica The Beatles, considerada a mais influente de todos os tempos, tinha apenas três anos de criação. E o Brasil estava há um ano de se tornar uma Ditadura Militar.

Mas para o Registro Civil das Pessoas Naturais, um personagem tão importante de sua história iniciava sua jornada na atividade.

No dia 31 de janeiro de 1963, próximo de completar 11 anos de idade, Antônio Francisco Parra ingressava no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Marília, cidade localizada a 435 km da capital paulista. 

Durante três anos, Parra exerceu atividades como “limpeza diária da serventia, entrega e retirada de correspondência nos correios, escrituração do livro Protocolo de Correspondência, entrega dos ofícios na Delegacia de Polícia, Centro de Saúde, Fórum, Posto Fiscal, Coletoria Estadual, e escrituração e entrega de Mapas Estatísticos no IBGE, entre outros órgãos”, explica o oficial.

“Ao completar 14 anos, fui contratado oficialmente como auxiliar de cartório, cargo esse que exerci até setembro de 1970. Como auxiliar, praticava atos de anotação nos livros, buscas, colagem de selos, expedição de certidões na máquina de escrever e elaboração de registros em geral.”

Nesta função, Parra permaneceu por quatro anos. Quando, aos 18 anos, foi aprovado no concurso de escrevente cartorário. “Naquela oportunidade, conforme a legislação vigente, o exame era prestado perante o Juiz Corregedor, fazendo parte da banca examinadora um membro do Ministério Público, um integrante da OAB e um oficial de outra serventia”, explicou.

“Como escrevente, permaneci até 15 de dezembro de 1977, quando fui nomeado oficial Maior da serventia, cargo hoje denominado substituto do Oficial”. Neste ano, Parra já estava na metade do curso de Bacharelado em Direito pela Fundação de Ensino Eurípedes Soares da Rocha.

Mas foi no início da década de 1980 que o caminho de Antônio Francisco Parra se consolidou no Registro Civil.  Em 1º de outubro de 1982 foi nomeado Oficial Interino da serventia, passando ao cargo de Oficial Delegado cinco meses depois.

No próximo dia 8 de março, completam-se 40 anos que Parra está à frente do Cartório de Registro Civil de Marília.

Uma trajetória para poucos…

Ao comentar sobre a atuação do profissional, Gustavo Renato Fiscarelli, vice-presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen/SP), destaca: “60 anos em qualquer atividade já é algo não apenas raro, mas digno de toda a reverência possível. Então seis décadas – que é muito mais que uma vida – dedicado a uma mesma profissão é algo muito honroso e admirável”.

Segundo Fiscarelli, que também é presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), Parra faz parte de um seleto rol de personagens do RCPN, profissionais que tiveram em suas trajetórias participações ímpares na história nacional. “O Registro Civil vive e deve reverência a muitos ícones, pessoas que ingressaram em serventias extrajudiciais muito antes da Constituição de 1988”, explica.

Nestas seis décadas, diversas foram as mudanças presenciadas por Antônio. O oficial conta que quando ingressou na atividade, em 1963, “os livros eram manuscritos, o que exigia uma boa caligrafia dos escreventes, não existia a extração de fotocópias, e as certidões eram emitidas individualmente, o que demandava muito tempo”. Segundo Parra, “com a vigência da Lei de Registros Públicos [Lei Federal nº 6.015/1973], os livros passaram a serem escriturados mecanicamente, facilitando também a extração de certidões, não deixando margem de dúvida na leitura dos conteúdos dos assentos”.

Para Antônio, os grandes avanços trazidos à atividade foram os tecnológicos. “Desde a lavratura dos assentos mecanicamente, a informatização e a expedição dos relatórios, as buscas nos índices, a criação da Central do Registro Civil – interligando as serventias de todo o Brasil, oferecendo uma gama enorme de serviços à população –, o Banco de Dados, a Certificação Digital, as certidões on-line, o sistema E-Protocolo, a interligação de informações com os órgãos públicos, a digitalização do acervo e dos atos, e o armazenamento dos backups nas nuvens”, foram, de acordo com o oficial, as principais evoluções que o Registro Civil vivenciou.

Antônio Parra comenta que “sempre digo aos colaboradores que temos duas serventias: O Cartório físico e o Cartório Digital”.

Segundo Fiscarelli, “falar de seis décadas do Registro Civil é falar quase de dois produtos totalmente diferentes”. O presidente da Arpen-Brasil explica que “logicamente, na história do RCPN os atos principais sempre foram a base, mas o Parra enfrentou nesses 60 anos o que tudo pode ter de melhor, e pior, também”.

“Ele vivenciou a conexão com o Foro Judicial, depois veio a Constituição Federal, que separou a profissão, permitindo o ingresso através de concurso público, o que nitidamente mudou a cara do extrajudicial”, disse Gustavo, comentando sobre a relação com o Poder Público que os cartórios possuíam, algo finalizado a partir de 1988, o que tornou a profissão muito mais democrática.

“Depois, Antônio esteve presente em uma era muito obscura, muito ruim do RCPN, que foi a época da gratuidade universal. E nas últimas décadas veio experimentando um outro Registro Civil, com novas atribuições, conectado e muito mais moderno, voltado principalmente ao cidadão. Um Registro Civil plural e democrático”, enfatiza Fiscarelli.

Para Antônio, as mudanças ocorridas nos atos do RCPN foram as mais importantes: “Como o casamento de pessoas do mesmo sexo, o reconhecimento socioafetivo, as alterações de nomes de pessoas transsexuais e, mais recentemente, alterações de prenomes e inclusões de sobrenomes”. Segundo o oficial de Marília, “são modernizações legislativas, o que demonstra que o Registro Civil está sempre em evolução. Devendo nós, registradores civis, sempre estarmos antenados e atualizados”.

Atuação na Arpen/SP

Na Arpen/SP, Antônio Parra teve uma passagem marcante, além de ter participado “junto com ilustres e abnegados colegas” da criação da Associação, também exerceu por três biênios funções no Conselho de Ética, e foi responsável pela Diretoria da Regional de Marília por quase vinte anos, região em que estão instalados 57 cartórios em 51 cidades.

“Nesse período como diretor tive a oportunidade de visitar todos os cartórios da Regional. Foram visitas muito gratificantes”, comenta. “Durante uma semana, percorremos mais de 1.700 km, verificando in loco as necessidades de cada colega.”

Em suas atividades na Associação, Parra participou de diversos Congressos Nacionais, promovidos pela Arpen-Brasil, realizou vários encontros regionais em Marília e também sediou o Primeiro Simpósio do Registro Civil, que contou com a presença de personagens ilustres, como juízes, promotores, desembargadores.

Segundo Gustavo Fiscarelli, Antônio Parra é “alguém que, independentemente de qualquer status ou cargo diretivo, sempre externou uma liderança estadual, e conduziu a Arpen e o Registro Civil, principalmente o paulista, sempre pelo melhor caminho”.

Pela sua dedicação e profissionalismo de sempre, Antônio recebeu a “Honra ao Mérito do Registrador Civil das Pessoas Naturais do Brasil”, concedida pela Arpen-Brasil em 2003, e foi o vencedor do concurso de “Cartório de Registro Civil do Estado de São Paulo que melhor atende o público usuário”, promovido pela Arpen/SP em 2005. Segundo Parra, na competição, o cartório concorreu com cidades de porte grande, além da própria capital paulista, e mesmo assim a serventia de Marília, município com cerca de 240 mil habitantes, saiu da disputa como a vencedora.

Segunda família

Nestes 60 anos, muitos foram os colaboradores e profissionais que passaram pelo cartório, e que de uma forma ou outra, vivenciaram com Antônio Parra as atividades do Registro Civil de Marília.

Uma destas pessoas foi Luciana Pereira, recentemente aposentada, que atuou por mais de 30 anos como escrevente do cartório. “Ingressei com 18 anos na serventia, era uma menina simples, sem muitas experiências de trabalho, e nesse tempo, o Parra também era um jovem rapaz, que havia se tornado oficial do Registro Civil de Marilia há pouco tempo. Ele próprio me ensinou o serviço e me destinou à seção dos casamentos, onde fiquei por todo o período em que atuei no cartório.”

Segundo Luciana, “muitas coisas eram diferentes…o mapa do IBGE era feito à mão e depois passou a ser à máquina de escrever, assim como o atendimento aos casamentos, borrávamos os dedos para trocar a fita”. 

“Ao passar dos anos o cartório foi crescendo, assim como o serviço, mas sempre tivemos a presença do Parra no nosso meio, para ajudar a resolver, motivar e corrigir o que era necessário.” Para a cartorária, Parra “sempre foi um patrão exigente, gostava dos livros e da mesa em ordem. O Cartório sempre estava impecável, nada ficava para guardar no dia seguinte, em tudo nos pedia zelo e comprometimento. Ele sempre foi uma pessoa esforçada, honesta e íntegra”. 

“Trabalhar com ele por tantos anos me proporcionou crescimento humano e intelectual, e me trouxe muita responsabilidade com tudo que assumo. Hoje, depois de 31 anos trabalhando no cartório, sou aposentada e muito grata com que vivi e aprendi com o Parra, que é meu eterno patrão.”

Também escrevente do cartório, Marcela Milani Canezin diz que “trabalhar com o Parra é indescritível, mas vou descrever em algumas palavras um pouco do que sinto com a sua presença marcante no cartório e em minha vida”.

Para a profissional, que está na serventia há 11 anos, “a sensibilidade, humildade e o empenho de Antônio Parra, em sempre entregar o melhor que pode para os usuários e fazer tudo acontecer dentro do cartório, me motivam. O Parra é inspiração para mim, um orgulho poder dividir esse espaço com tanto aprendizado, carinho, poder me sentir em casa no trabalho”.

“Muito mais que um chefe, ele é um líder, e o meu sentimento marcante por ele é essa busca pela evolução em todos os aspectos que envolve o trabalho e a rotina. Tenho muito orgulho em trabalhar ao lado desse grande homem.”

Sua gentileza é citada também por Gustavo Fiscarelli: “O Parra é uma referência, sem contar, logicamente, na parte humana. Ele sempre foi uma pessoa fantástica, acolhedor, educado, generoso, humilde. São atributos que deveriam acompanhar todo registrador civil, e o Parra é o melhor exemplo de todas essas qualidades”.

“Ele é um grande amigo, um grande companheiro, um grande entusiasta do novo. É alguém que sempre queremos ao lado, e essa homenagem sempre será muito aquém do que ele merece”, enfatiza o presidente da Arpen-Brasil.

De acordo com Luciana Pereira, a importância de Parra para o Cartório de Marília “é infinita, pois tem muita vivência e experiência, o que transmite aos usuários e funcionários muita segurança no serviço oferecido”.

“Mas a importância ainda maior é a prestação de serviços que ele e todos os seus colaboradores exercem, com respeito, sabedoria, conhecimento de normas e leis, justiça, eficácia e responsabilidade, o que faz do Parra e do seu Cartório, o melhor da cidade.”

Concordando com a antiga colega, Marcela Canezin diz que “Parra é de extrema e essencial importância dentro do Cartório”. Para a escrevente “ele é a nossa base, estrutura, o nosso apoio e segurança”.

“A forma com que ele se faz presente todos os dias no cartório, na maioria das vezes chegando antes de nós funcionários, e até saindo depois, e ao mesmo tempo a maneira que dedica a sua capacidade de enfrentar todas as lutas diárias, com sorriso, empatia, honestidade, humildade, e ainda o seu cuidado, capricho e zelo por tudo o que envolve os arquivos do cartório, os livros, os documentos, demonstram o quanto é único o cartório por ter ele aqui presente.”

Segundo Marcela, “o Registro Civil de Marília é conhecido em todos os cantos, desde os mais nobres ao mais simples”. A escrevente diz que “vejo aqui um lugar onde todos estão dispostos a ajudar. E mais do que isso, nosso objetivo é resolver os problemas dentro das possibilidades legais, não nos esquivamos das dificuldades. Estar no RCPN de Marília é um privilégio, fazer parte de diversas fases da vida da sociedade é único, e acompanhar toda essa evolução é inspirador e traz a mim uma sede por continuar vivendo o que o Registro Civil proporciona na vida das pessoas”.

E todo esse carinho da equipe foi externado no último dia 31 de janeiro com um grande café da manhã, afim de celebrar os 60 anos de profissão de Antônio Parra, completados naquele dia. O oficial também ganhou de seus colaboradores um álbum de fotos, com ilustres imagens de suas vivências e passagens pelo Registro Civil.

Parra não pensa em se aposentar tão breve… Segundo o oficial, o plano para o futuro é “permanecer na administração do Registro Civil enquanto tiver saúde e Deus permitir que eu continue exercendo minha atividade, desacelerando meu ritmo de trabalho, sem, contudo, abandonar meu posto”, além, claro, “continuar me atualizando, repassando aos colaboradores as modificações legislativas”.

Na conclusão da entrevista, ao ser questionado sobre o valor que a serventia possui em sua vida, Antônio Francisco Parra disse ser “minha segunda família: assim defino a importância do cartório e do RCPN em minha vida”.

Fonte: Assessoria de Comunicação – Arpen/SP