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AnoregSP – “É preciso que qualquer espaço público seja acessível para as pessoas surdas”

Em entrevista exclusiva à Anoreg/SP, o presidente Associação dos Surdos de São Paulo, fala sobre a importância do atendimento público à comunidade surda

17-08-2021

Desde 2016, a Associação dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo (Anoreg/SP) implantou o Sistema de Atendimento em Libras nos cartórios associados adimplentes do Estado de São Paulo, visando atender a regulamentação do Provimento nº 32/2016, da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo.

Ao oferecer acessibilidade nos atendimentos por meio de intérpretes de libras, notários e registradores buscam garantir a autonomia e a independência dos portadores da surdez na realização de atos de cidadania e de relações jurídicas pessoais e patrimoniais.

Para falar sobre este projeto e a importância de oferecer um atendimento aquedado aos deficientes auditivos, a Anoreg/SP, entrevistou de forma exclusiva o presidente da Associação dos Surdos de São Paulo (ASSP), Jorge Rodrigues.

Na entrevista, o presidente abordou a importância da Língua Brasileira de Sinais em todos serviços públicos, além da falta de atendimento adequado em unidades que não aderiram à iniciativa da Anoreg/SP.

Confira a entrevista na integra.

Anoreg/SP: Como a implantação de atendimento apropriado aos surdos pode ajudar no cotidiano dos deficientes auditivos?

Jorge Rodrigues: Poderá proporcionar uma grande autonomia às pessoas surdas para que não precisem depender de terceiros e para que haja um atendimento eficiente. Tudo o que nós, da comunidade surda, queremos é poder resolver as coisas por conta própria.

Anoreg/SP: Na sua opinião, quais ambientes públicos deveriam assegurar de forma correta o atendimento aos deficientes auditivos?

Jorge Rodrigues: Todos os ambientes públicos, sem exceção. Que vão de mercados até o Tribunal da Justiça. É preciso que qualquer espaço público seja acessível para as pessoas surdas.

Anoreg/SP: Quais ações poderiam ser realizadas para garantir aos surdos uma vida mais inclusiva e autônoma em sociedade?

Jorge Rodrigues: Que as pessoas soubessem, pelo menos, o básico de Libras, é o mínimo. Além disso, seria bacana ter intérprete de Libras disponível para o atendimento caso a comunicação exija.

Anoreg/SP: Há 5 anos, os Cartórios do Estado de São Paulo implantaram o sistema de atendimento ao surdo, com intérpretes de Libras. Como avalia esta iniciativa?

Jorge Rodrigues: Eu, como presidente atual da ASSP e o Leandro Miguel, ex-presidente da mesma, avaliamos que tem muito o que melhorar, pois diversos cartórios não possuem intérpretes. Se tiver, seria interessante ter um adesivo anunciando que tem acessibilidade logo na entrada, além de avisar nos sites como o Google Mapas, no site próprio, entre outros espaços virtuais.

Anoreg/SP: Qual a importância desta acessibilidade em atendimentos e atos extrajudiciais, garantindo a segurança jurídica e a prática de serviços de cidadania?

Jorge Rodrigues: A de garantir que as pessoas com deficiência possam ter consciência do que está sendo escrito e/ou dito durante o atendimento jurídico. Que elas, como cidadãs brasileiras, possuem o direito de terem as mesmas informações que as pessoas ouvintes.

Anoreg/SP: Além da disponibilidade de intérpretes, quais materiais e formatos de atendimento sugeriria para favorecer a qualidade da comunicação com os deficientes auditivos?

Jorge Rodrigues: Ao meu ver, como surdo, é imprescindível ter a consciência de que a pessoa surda que for ser atendida é capaz intelectualmente da mesma forma que uma pessoa não-surda. É saber conduzir uma comunicação acessível, estar disposto para sanar as dúvidas da pessoa.

Anoreg/SP: Como avalia o atual cenário de acessibilidade para os surdos em instituições públicas e privadas em São Paulo? Quais são as principais dificuldades?

Jorge Rodrigues: Avalio que o atual cenário de acessibilidade nas instituições está aquém do esperado. A falta de disponibilidade dos intérpretes/profissionais que saibam Libras ainda é recorrente. Além de existir, ainda, profissionais que não estão preparados para atender pessoas que fazem parte de qualquer minoria social.

Fonte: Assessoria de Comunicação – Anoreg/SP