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Sinoreg-SP faz doação aos cartórios atingidos pela enchente em São Luiz do Paraitinga

27-09-2016

Sinoreg-SP faz doação aos cartórios atingidos pela enchente em São Luiz do Paraitinga

 

Entidade doou R$ 15 mil a cada um dos três cartórios atingidos e planeja novas iniciativas para auxiliar a reorganização do serviço extrajudicial na cidade.

 

A tragédia que se abateu sobre a cidade de São Luiz do Paraitinga no último dia 1° de janeiro, que inundou o centro histórico do município e danificou as instalações, acervos, móveis e equipamentos dos cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais, Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Pessoa Jurídica e Tabelionato de Notas e Protesto prontamente mobilizou a Direção do Sindicato dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo (Sinoreg-SP), que já encaminhou auxílio financeiro às respectivas cartorárias.

 

Na semana passada, o Sinoreg-SP depositou na conta das Oficialas Maria Rita Monteiro de Barros, Ana Paula de Souza e Lara Lemucchi Cruz a quantia de R$ 15 mil para que dêem início ao processo de reconstrução de suas serventias. “Fizemos um aporte financeiro inicial para as colegas de São Luiz de Paraitinga comprarem materiais e contratarem pessoal para limpeza e mudança, se necessária, da sede de suas serventias”, explica o presidente do Sindicato, Cláudio Marçal Freire.

 

Por meio de sua gerência administrativa, coordenada por Clóvis Nascimento, o Sinoreg-SP já havia feito diversos contatos com as responsáveis pelos cartórios atingidos, colocando a entidade à disposição para o que fosse necessário, e que ao lado das demais associações, solicitaria o levantamento complemento da situação para reconstrução dos cartórios colaborando na aquisição dos móveis e equipamentos necessários e indispensáveis ao funcionamento das respectivas serventias.

Segundo o presidente da entidade, Cláudio Marçal Freire, “o Sinoreg-SP, independente das medidas que já foram adotadas, está estudando a possibilidade de fazer à doação mensal às mencionadas serventias, nos próximos três meses, das importâncias brutas médias que vinham auferindo nos últimos seis meses”, indicou.

 

 

Para o presidente da entidade, a destruição causada pela inundação em São Luiz do Paraitinga motivou uma grande mobilização da categoria em prol dos cartórios atingidos. “Independentemente da condição associativa de cada um e da disposição pessoal dos colegas que puderam prestar diretamente a sua colaboração, o Sinoreg-SP decidiu colaborar imediatamente com os cartórios atingidos, entendendo que com essa atitude estaria representando a solidariedade da grande maioria dos notários e registradores do Estado, por ser a entidade que detêm mais de 1.040 filiados”, explicou.

 

Desastre atinge cidade histórica de São Luiz do Paraitinga

Um cenário de guerra. Esta é a melhor descrição para retratar a atual situação da cidade histórica de São Luiz do Paraitinga (186 km de São Paulo), tombada pelo patrimônio histórico estadual, e devastada na madrugada do dia 1° de janeiro deste ano pela enchente do rio Paraitinga, que subiu cerca de 15 metros, e inundou totalmente o centro histórico da cidade, que também abriga o centro comercial e de serviços, e onde estão localizadas a igreja, os cartórios, a Prefeitura e o Fórum da cidade.

Afetados diretamente pelas enchentes, os três cartórios da cidade ficaram completamente submersos durante a enchente, que deixou um rastro de lama, sujeira e enorme mau cheiro em toda a história arquivada nas serventias de mais de um século da histórica cidade paulista. “Eu nunca vi coisa igual, perdi tudo”, descrevia a Tabeliã de Notas e Protesto de São Luiz do Paraitinga, Ana Paula de Souza, há dois anos designada para responder pelo cartório.

“Minha vida estava no cartório, em casa só tenho o sofá e roupas. Preferia ter perdido a casa do que o cartório. Não sei nem por onde começar”, dizia a Oficiala de Registro Civil Lara Lemucchi Cruz, enquanto tentava salvar os livros que ainda não haviam sido dizimados pela mistura de água e lama. “Estou completando três meses no cartório, acabei de assumir. Investi tudo o que tinha aqui e agora tudo se perdeu, é chocante”, completou Maria Rita Monteiro de Barros, Oficiala de Registro de Imóveis da cidade.

Logo pela manhã desta quarta-feira (06.01), moradores, comerciantes e voluntários já estavam com rodos, luvas e botas prontos para iniciar o trabalho de limpeza dos casarões atingidos pela enchente. Era a primeira vez que a Defesa Civil liberava a entrada dos moradores nos imóveis para a retirada do que havia se perdido, assim como a circulação de veículos pesados pelo centro histórico da cidade. Antes das 12h, entulhos e muita sujeira já tinham ocupado todas as ruas do centro histórico, prolongando o trabalho de tratores e escavadeiras até tarde da noite. Água potável, luz elétrica e linhas telefônicas ainda são escassos na cidade.

Durante a tarde, o governador do Estado de São Paulo, José Serra chegou a São Luiz do Paraitinga. Após olhar os estragos causados pela enchente na praça central e na igreja matriz, avançou pelas ruas do centro histórico, chegando ao cartório de Registro Civil. Em rápida conversa com a Oficiala, que apontou o estado dos livros e o que seria feito, o governador decretou. “Está autorizado a levar isso (o acervo do cartório) já. Inclusive, o mais rápido possível, pois vai chover de novo”, pontuou.

Tabelionato de Notas e Protesto

A situação no Tabelionato de Notas e Protesto de São Luiz do Paraitinga era assustadora logo pela manhã. Um rio inundava o corredor de acesso ao cartório, transpassado sem prejuízos apenas para quem calçava botas. Instalado em um sobrado de dois andares, a serventia foi inundada por completo. Livros localizados no andar superior foram parar em cima da cortina. Fichas de firmas estavam grudadas no teto. O relógio parado ao ser atingido pela correnteza apontava a hora do desastre: 03h05 da manhã.

Atônita, a mineira Ana Paula Souza, Tabeliã designada de Notas e Protesto de São Luiz do Paraitinga, buscava alento nas mensagens de apoio que recebia a todo instante. “Tenho dois funcionários, mas eles também perderam tudo na enchente, estão desesperados, assim como eu, que estou vendo toda a história dos negócios da cidade debaixo da água”, disse a Tabeliã, que ainda tinha a porta da serventia repleta de entulho e sujeira, jogados pelas pessoas que desocupavam os demais estabelecimentos de uma rua repleta de comércio e serviços.

O cheiro de carne estragada e alimento deteriorado pela exposição contaminava cada vez mais o ar na rua onde o cartório está instalado. Escavadeiras, tratores e máquinas amassavam o que eram camas, estantes, sofás. Desolada, Ana Paula contava que nos dois últimos anos o cartório havia se tornado sua vida. “Cada arquivo, cada livro foi cuidado, organizado, fichas foram plastificadas, tudo feito com muito carinho e que foi simplesmente varrido”.

Registro de Imóveis

Recém empossada como Oficiala titular do Registro de Imóveis de São Luiz do Paraitinga, Maria Rita Monteiro de Barros, estava desolada quando abriu pela primeira vez a porta de sua serventia. “Estava investindo tudo, minha vida inteira, minhas economias aqui”, disse. “Eu era escrevente em São Bernardo do Campo, então não tinha uma grande receita para fazer o que eu gostaria, mas com o auxílio do Dr. André Palmeira (1° Registrador de Imóveis de São Bernardo do Campo) estava informatizando o cartório”, disse.

O Registro de Imóveis está localizado no mesmo prédio onde situa-se o Tabelionato de Notas e Protesto e ocupa três cômodos contíguos ladeados por um corredor que transbordava lama e sujeira. A situação dentro do cartório não era diferente dos demais. Livros levados pela correnteza estavam no chão, cobertos pela lama. Matrículas, mesmo as plastificadas estavam encharcadas. O arquivo inteiro derrubado no chão ou com papéis colados no teto. “Muitos colegas estão me ligando, alguns ajudarão com doações, mas espero que a ajuda chegue logo, antes que eu perca meus livros e minhas matrículas”, disse.